Com a Semana Santa nas proximidades do calendário, o brasileiro
que segue tradições cristãs se prepara para reduzir o consumo de carne
vermelha.
É o caso da aposentada Maria das Graças Damasceno, 68, que vem
de família católica. “Quinta e Sexta-feira Santa a gente não pode comer carne
vermelha, então tem que ser peixe, sardinha, ovo ou uma torta”, relata.
Consequentemente, há um
aumento na procura dos pescados em todo o Distrito Federal, um mercado também
abastecido pela produção local. Dados da Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) apontam que os moradores da
capital federal consomem cerca de 50 mil toneladas de peixe por ano.
Para suprir parte dessa
demanda, há 919 produtores de pescado na Grande Brasília, com cerca de 81
hectares para a criação de alevinos.
Em 2023 a produção de
peixes ultrapassou 2 mil toneladas no Distrito Federal, um número maior que o
registrado em 2022, que foi em torno de 1.800 toneladas. Para o produtor
Aldemir Gomes, a expectativa para 2024 é superar essas quantidades. Nos tanques
de criação que possui em sua propriedade, localizados na área P Sul de
Ceilândia, já são mais de oito toneladas de tilápias prontas para a coleta.
“Espero que tenha uma
boa venda, o estoque que eu tenho hoje está bom e estou bem preparado com um
produto fresquinho para chegar na mesa do consumidor”, empolga-se o produtor.
Meses
de preparação
São cerca de dez meses
acompanhando o ciclo de crescimento dos peixes para suprir o aumento da demanda
próximo à Páscoa, período em que os peixes devem estar no ponto ideal para a
despesca. Os produtores alojam uma maior quantidade de alevinos nos meses
de setembro e outubro, quando a temperatura da água está mai elevada.
Além da condição climática ser preferível para os peixes, o tempo de
desenvolvimento do pescado também é levado em consideração.
Outro apoio aos produtores de pescado do Distrito Federal se dá
por meio do programa Alevinar, de produção e manejo de tilápias, criado pela
Secretaria da
Sônia Maria Gomes,
esposa do produtor Adelmir, trabalha junto ao marido na área de pescados há
mais de dez anos e explica que o acompanhamento da Emater foi essencial para
que a produção funcionasse.
“Tivemos um apoio muito
bom, são muito atenciosos. Eles foram passando quais os órgãos competentes a
gente deveria procurar, vigilância ambiental, ADASA… Eles sempre auxiliando.
Hoje está tudo fiscalizado e se tornou nossa principal fonte de renda. Desde
2015, fechamos a horta e investimos só em peixe, com a produção toda familiar”,
afirma. Outro apoio aos produtores de pescado do DF se dá por meio do
programa Alevinar, de produção e manejo de tilápias, criado pela Secretaria da
Agricultura (Seagri-DF).
De acordo com o técnico
da Emater-DF, Aécio Prado, o ponto forte para produção de peixe no DF é o
mercado consumidor. O especialista frisa que a população numerosa
concentrada em um território relativamente pequeno facilita a comercialização e
que mesmo o DF não tendo um clima muito propício para criação de peixe devido
ao inverno frio e a falta de mais rios caudalosos com fontes de águas fáceis e
por gravidade, o mercado consumidor compensa as nuances desfavoráveis. “A gente
apoia os nossos produtores pensando na facilidade de comercialização de um
produto com maior qualidade”, observa.
Aécio acrescenta,
ainda, que as últimas produções foram bastante significativas e há expectativas
que a produção deste ano aumente em virtude de questões de mercado, como por
exemplo a queda no preço de alguns insumos, principalmente da ração. “A gente
teve melhora no preço para os nossos produtores e com isso vai ter também um
reflexo lá no preço de venda. O consumidor poderá perceber um preço mais em conta
na hora de comprar seu pescado”, destaca o técnico. Toda a produção do DF é
absorvida pela população local – o montante produzido aqui chega a 4% do total
consumido.
Procura
nas feiras
O gerente Luis de
Mesquita trabalha em uma peixaria na Feira do Guará e mantém uma relação
próxima com os produtores locais há mais de dez anos, que fornecem
principalmente tilápia, tambaqui e pintado. Segundo ele, as compras de
mercadoria neste período de março já são feitas pensando em uma tendência de
aumento de 40%. No último ano, o consumo nessa época aumentou 35% na peixaria
em relação ao período de 2022.
“Por semana, a gente consome aqui nas duas peixarias da Feira do Guará, mais ou menos, uma tonelada de tilápia, meia de pintado e meia de tambaqui. Nessa época em que aumenta a demanda, a gente procura os fornecedores no início da quaresma para ver a quantidade que eles têm produzido e quanto eles têm disponível para a gente na Semana Santa”, detalha o gerente.