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Em 2024, um total de 3,5 mil pedestres foram vítimas desse tipo de
crime.
Os furtos chegaram 793. Os números são menores do que os de 2023,
mas não diminuem a sensação de insegurança.
Especialistas cobram punições mais severas e reforço no policiamento
Entre
janeiro e abril de 2024, 30 pessoas foram roubadas por dia na Grande Brasília,
enquanto seis furtadas a cada dia, em média (veja quadro abaixo com
levantamento total até abril deste ano).
Apesar
dos números serem menores do que os do mesmo período de 2023, a sensação de
insegurança entre os brasilienses ainda persiste.
O Correio ouviu
vítimas e especialistas em segurança pública para traçar uma análise do cenário
dos roubos e furtos a transeuntes na capital do país.
Há
cerca de 15 dias, a estudante Lara* (nome fictício), 22 anos, foi roubada
enquanto chegava em a parada de ônibus. "Eu estava com o celular na bolsa
da faculdade com livros e apostilas. Ele (ladrão) puxou a bolsa, revirou e
levou o celular. O tempo todo ele dizia: 'Perdeu, perdeu'. Foi
aterrorizante", descreveu. Depois do roubo, Lara mudou o caminho
percorrido até a parada. E está mais atenta ao que está acontecendo em volta.
"Fico sempre olhando para os lados. Perdi a paz e ando com medo",
comentou.
Sociólogo
e ex-professor de MBA em segurança pública e direitos humanos, Antonio Testa
analisou os dados referentes a roubos e furtos a pedestres e acredita que,
apesar de ser uma média baixa, considerando o tamanho da população do Distrito
Federal, as estatísticas incomodam e criam insegurança nas pessoas. "O que
motiva os criminosos é a impunidade jurídica. A polícia prende e a Justiça
solta. A criminalidade cresce devido à certeza da impunidade. A população está
refém e não pode se defender, sob sérios riscos de punição", analisou.
O
especialista orienta a população a tomar precauções e aumentar a atenção. Mas
adverte: "Isso pode até levar a comportamentos paranoicos e angústia.
Pensar que pode ser vítima a qualquer momento pode gerar ansiedade. O resultado
é o aumento da violência e até ações de 'justiçamento' em situações mais
graves. Em realidade, é um problema social bem complexo. E o Estado não
consegue resolver a questão", pontuou.
Precaução
O estudante
universitário Pedro Gabriel, 22, mora em Samambaia e foi assaltado quatro vezes
na região onde mora. A última vez foi à mão armada. "Estava em uma parada
de ônibus com minha mãe, era por volta de 6h30. Um carro encostou, e desceu um
assaltante com uma arma. Foi tudo muito rápido, não deu muito tempo de
reagir", relatou. "Minha primeira reação foi querer correr, mas minha
mãe achou que podia ser pior, então ficamos parados", completou. "Ele
me abordou com a arma, e eu entreguei um celular que não funcionava, pois
sempre ando com dois. Mas ele entendeu a estratégia e ficou questionando sobre
o meu celular verdadeiro. No fim das contas, ele levou o celular reserva
mesmo", concluiu.
Pedro conta
que, por ter sido assaltado outras três vezes, resolveu andar sempre com um
celular "reserva" além do próprio aparelho. "Dessa forma, se eu
for assaltado, não preciso me desfazer do meu próprio celular. Mas os
criminosos estão por dentro dessa estratégia", afirmou
Comportamentos
Especialista
internacional de segurança e docente no Instituto Superior de Ciências
Policiais, Leonardo Sant'Anna alerta que é preciso adotar medidas pessoais para
evitar roubos e furtos. "Comportamento preventivo é tudo que podemos fazer
para evitar ser vítima de um agressor social. Furto e roubo são crimes de
oportunidade", observou.
Sant'Anna
pontuou alguns comportamentos que podem fazer com que as vítimas sejam vistas
por criminosos como alvos fáceis. "Colocar fone de ouvido é uma maneira de
ficar mais alheio ao que acontece ao redor. Usar o celular no bolso de trás é
uma forma de se colocar como vítima mais fácil. Deixar pertences dentro do
carro parado no estacionamento ou manter a mochila nas costas também são formas
de se colocar em uma posição de vulnerabilidade", elencou.
Punições
De acordo
com o Código Penal, a punição para furto é de um a quatro anos de reclusão e
multa. No caso de roubos, a pena é de quatro a 10 anos de reclusão. Segundo o
especialista Leonardo Sant'Anna, há falhas na legislação que pune ladrões que
roubam e furtam transeuntes. "Hoje temos uma legislação extremamente
flexível. Qualquer delito que tenha menos de cinco anos de pena, essa pena não
é cumprida no sistema prisional", ressaltou.
Leonardo
Sant'Anna criticou ainda as audiências de custódia. "Nestas audiências,
eles perguntam apenas para quem cometeu o crime o que o profissional de
segurança fez com ele, não é perguntado para a vítima como ela foi tratada. A
legislação precisa mudar. É preciso algo mais intenso, mais firme. Precisamos
ter um mínimo de qualidade de vida por cumprir as leis e não desrespeitar
qualquer regra social", salientou.
Presidente
da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Ana
Izabel Alencar, atribui à distração das vítimas o número de roubos e furtos a
pedestres. "As pessoas acreditam que nada acontecerá com elas e relaxam.
No caso dos criminosos, por muitas vezes eles agem para demonstrar um padrão de
vida irreal para a sociedade, pois é uma forma fácil de ganhar dinheiro e
demonstrar ter um status diferente da realidade. Muitos utilizam a vida do
crime para se manter no poder no reduto onde vivem", observou.
Policiamento
De acordo com a advogada, para coibir os roubos e furtos é preciso reforçar pontos de policiamento. "Além disso, é importante estimular as vítimas a fazer boletins de ocorrência, para que a polícia possa identificar os lugares onde mais acontece e atuar incisivamente", afirmou Ana Izabel Alencar. "É fundamental aumentar o contingente de policiais do DF, pois está muito abaixo do recomendável para o tamanho da população que é de quase três milhões de pessoas", concluiu.
Segurança integral
A Secretaria
de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) informou que instituiu, no
fim do ano passado, o programa DF Mais Seguro — Segurança Integral, que envolve
a participação da sociedade civil e de diversos órgãos, com o objetivo de
reduzir a criminalidade e a violência, aumentando a sensação de segurança da
população. Por meio do eixo Cidadão Mais Seguro, o programa envolve setores da
sociedade civil, permitindo o atendimento das demandas da população de forma
regionalizada. A SSP informou que, no comparativo do primeiro
quadrimestre, o DF apresentou redução de 17,7% nos crimes contra o patrimônio
(CCP).
A pasta
informou que tem direcionado investimentos para a capacitação das forças de
segurança, a melhoria dos equipamentos utilizados e a adoção de tecnologias
avançadas para otimizar o trabalho policial e o fortalecimento dos processos de
gestão. Relatórios semanais são compartilhados com as forças de segurança,
apontando as chamadas "manchas criminais", em que é possível detectar
dias, horários e locais de maior incidência de crimes, garantindo um
policiamento efetivo.
O Programa
de Videomonitoramento Urbano (PVU) da pasta realiza o monitoramento integrado
entre as forças de segurança e outros 31 órgãos, bem como instituições e
agências do governo local e federal, atendendo a 29 das 35 regiões
administrativas do Distrito Federal, com 1.190 câmeras instaladas.
De acordo
com a Polícia Militar (PMDF), a corporação atua na implementação de medidas que
visam aumentar a segurança nas regiões administrativas, direcionando o efetivo
policial em áreas consideradas críticas, intensificando o patrulhamento
ostensivo, e realizando operações específicas de combate à criminalidade, além
de parcerias com outros órgãos e entidades públicas e privadas.
Previna-se
EVITE
»
Estar em lugar ermo;
» Multidões,
principalmente se estiverem em movimento;
» Andar na rua falando no celular;
» Parar e ficar mexendo no celular, tanto dentro do carro como fora;
» Conversar
ou mexer no celular dentro do ônibus;
» Usar
objetos de valores em lugares públicos abertos;
» Colocar
mochila nas costas, principalmente dentro do ônibus;
FIQUE
ATENTO
» Quando
se dirigir ao carro, observar se tem pessoas estranhas por perto;
» Se
intuir situação suspeita ou pessoas suspeitas ao voltar para casa, dar uma
volta na quadra para conseguir estacionar com segurança ou andar até a
residência;
» Estar
sempre atento aos objetos pessoais que carrega;
» Observar
se está sendo seguido e, caso ocorra, se misture a outras pessoas ou mude o
caminho que iria fazer.
Canais de
denúncia
» Em
caso de emergência, a Polícia Militar (PMDF) está disponível pelo número 190.