Encontro reuniu profissionais para discutir como ampliar o
acesso e qualificar a assistência na rede pública.
O evento ‘Educa em Ação’ faz alusão ao ‘Dia Nacional da Luta
Antimanicomial’.
No final
desta semana, o auditório do Hospital de Base de Brasília (HBDF) recebeu um
debate sobre saúde mental e os rumos da Reforma Psiquiátrica no Distrito
Federal.
O
evento ‘Educa em Ação: Saúde Mental e Cuidado em Rede’, promovido
pela Diretoria de Inovação, Ensino e Pesquisa (DIEP) do Instituto de Gestão
Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), reuniu especialistas,
trabalhadores da saúde e estudantes para refletir sobre os desafios, as
potencialidades e as estratégias de fortalecimento da rede de atenção
psicossocial (RAPS).
A ação
integra o calendário de atividades da educação permanente da DIEP e foi
organizada em alusão ao ‘Dia Nacional da Luta Antimanicomial’, celebrado em 18
de maio.
O
encontro contou com transmissão ao vivo pelo canal do IgesDF no YouTube.
Participaram
da mesa-redonda o psiquiatra Sérgio Cabral Filho, chefe do Serviço de
Psiquiatria do Hospital de Base; a enfermeira Andressa de França Alves Ferrari,
especialista em saúde mental, álcool e outras drogas; e a assistente social
Cibele Maria de Sousa, referência na atenção primária.
Segundo
Beatriz Souza Liarte, assistente social do Núcleo de Educação Permanente e
organizadora do evento, a proposta foi criar um espaço de troca e reflexão
coletiva.
“O Educa
em Ação é uma iniciativa que visa discutir temas relevantes da assistência, com
foco na humanização e na qualificação do cuidado. Pensamos em um evento que
envolvesse diferentes profissionais da rede, como psiquiatra, enfermeiro e
assistente social, que possuem visões integradoras e atuam em pontos distintos
da RAPS”, destacou.
O
psiquiatra Sérgio Cabral abordou o papel da atenção de urgência e emergência
dentro da RAPS e os esforços para descentralizar o cuidado. “A Reforma
Psiquiátrica busca romper com a lógica dos manicômios e integrar o cuidado em
saúde mental aos serviços já existentes. Aqui no Hospital de Base, atendemos
casos graves em crise, oferecemos ambulatórios de suporte e temos leitos para
internação temporária. Nosso desafio é garantir que o cuidado chegue próximo da
população, sem isolar os pacientes”, explicou.
Especialistas debateram também os rumos da ‘Reforma Psiquiátrica
no Distrito Federal’
Sérgio
também apresentou os resultados de um projeto piloto de estabilização
psiquiátrica nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), iniciado em 2024, no
Núcleo Bandeirante. “Implantamos um modelo com psiquiatra atuando em dias
alternados, dando suporte à equipe e organizando projetos terapêuticos. Isso
reduziu drasticamente os transportes desnecessários para hospitais e melhorou a
resolutividade dentro da própria UPA”, revelou.
A
assistente social Cibele Maria de Sousa levou ao debate o olhar da atenção
primária e a importância de uma escuta qualificada. “O cuidado em saúde mental
começa na ponta, no acolhimento diário. Muitas vezes, o profissional tende a
encaminhar o paciente rapidamente ao Caps, sem construir vínculo, sem se deixar
afetar por aquele sujeito. Isso rompe com a possibilidade de cuidado integral”,
destacou.
Cibele
também alertou sobre a necessidade de aproximar os serviços da população.
“Imagina a realidade de uma mãe que precisa levar o filho em crise, do Sol
Nascente até o Caps em Taguatinga. É preciso construir redes locais, conhecer
os sujeitos do território e seus atravessamentos. Saúde mental é uma pauta que
precisa estar nas escolas, nas igrejas, nos coletivos”, completou.
A
enfermeira Andressa Ferrari ressaltou que a construção de um cuidado em
liberdade ainda é um desafio contra-hegemônico. “A rede precisa transitar para
um cuidado centrado na pessoa. Isso só é possível se nos movermos
coletivamente. Quando criamos espaços de partilha e apoio mútuo, temos força
para atuar de forma ética e transformadora”, pontuou.