Alexandre Azevedo, contador e morador da 411 sul, ia para a cozinha de seu apartamento como sempre faz normalmente, mas naquela vez teve uma surpresa inesperada.

O cômodo estava uma bagunça, e o responsável por ela ainda estava ali: um macaco.

O animal era pequeno, mas ainda assim assustou o contador. Alguns moradores do bloco S da 411 sul têm avistado macacos nos últimos dias.

Os visitantes aparentam ser saguis-de-tufos-pretos, que, pela proximidade das árvores às janelas, conseguem entrar nos apartamentos dos moradores.

Segundo Alexandre, os macacos começaram a rondar as janelas dos moradores há aproximadamente três semanas. “O aparecimento deles é constante não só na minha janela, mas na de outros moradores também porque a copa da árvore é grande”, explica o morador. Mesmo que as janelas tenham grades, isso não impede a entrada dos animais se ela estiver aberta, já que os saguis são pequenos. Alexandre conta que o macaco mexeu principalmente na cozinha do apartamento, chegou até a comer pão e outros alimentos que estavam por ali. Apesar do transtorno, o contador diz aliviado que ele não causou nenhum problema maior, “não chegou a ter nenhum tipo de prejuízo financeiro com algo como televisão ou outra coisa. Não quebrou nada, mas bagunçou a casa”.

Antônio Cordeiro, o síndico do prédio, conta que a maioria dos moradores avista os saguis pelas árvores que ficam próximas. No entanto, essa foi a primeira vez que eles invadiram um dos apartamentos. “Eles são graciosos, mas são um perigo. Uma mordida de um deles pode transmitir raiva e uma série de outras doenças. Além de que esses macacos, dentro de um apartamento, podem quebrar tudo”, ressalta Antônio.  

Ao perceber que o pequeno intruso estava na cozinha, Alexandre explica que teve que abrir por completo a porta e a janela para esperar ele sair. “A orientação que nós temos é que não pode mexer nos macacos por causa de doenças, então a gente tem que aguardar eles saírem do apartamento. Como só entrou um, foi bem mais fácil lidar com a situação. Rapidamente, com uns cinco ou dez minutos, ele saiu pela janela onde ele entrou”, destaca. Até por conta disso, Antônio conta que foi um caso de sorte, “se entram dois ou três vira um problema maior, tem que chamar a polícia florestal para retirar os macacos de dentro da casa. Até ela chegar e retirar o bicho é um problema sério”, diz o síndico.

De acordo com Antônio, os animais se tornaram um problema recorrente, “várias vezes durante a semana há notícias deles por aí subindo nas árvores e chegando nas janelas”. Alexandre conta que, até o dia da invasão, os macacos já haviam chegado próximo à janela do apartamento pelo menos três vezes. O palpite do contador é que os animais observam se há alguma movimentação de pessoas pela casa para entrar no local. “Eu não estava em casa no momento e tinha deixado a janela aberta, quando eu cheguei o macaco estava lá. Foi uma situação que nunca tinha acontecido”, relata Alexandre.

Árvores próximas

A frequência dos saguis nas janelas dos moradores pode ser explicada, segundo Alexandre, pelos galhos das árvores próximas ao prédio, que estão muito perto das janelas. “Eu creio que o fato das árvores estarem sem poda contribuiu para que esses macacos viessem para cá e ficassem aqui”. O síndico explica que já fez um pedido à administração do Plano Piloto para que as árvores sejam devidamente podadas. “No momento em que eu fiz o pedido avisando da urgência e explicando o problema dos macacos, eles informaram que o prazo seria de seis meses”.

Em nota, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) informa que, até o momento, não localizou protocolo específico sobre a solicitação de poda de árvores na Quadra 411 Sul. Segundo a companhia, para que a demanda possa ser analisada e atendida conforme os critérios técnicos, é necessário que o pedido seja formalizado com a indicação precisa do endereço, incluindo o número do bloco ou lote afetado. A Novacap diz ainda que assim que o protocolo for identificado no sistema, a equipe técnica poderá avaliar o caso e verificar a possibilidade da poda, seguindo critérios como risco, interferência em residências, saúde da árvore e segurança da fauna e da população. Procurada pela reportagem, a administração do Plano Piloto não se pronunciou até o fechamento da edição.

Sagui-de-tufos-pretos

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), o sagui-de-tufos-pretos é uma espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só ocorre em regiões específicas do país. Ela é comum e amplamente distribuída no Cerrado, e ocupa também áreas de Mata Atlântica e Caatinga. Foi introduzida em diversos estados do Brasil em decorrência do tráfico de animais silvestres e liberações desordenadas. Os saguis-de-tufos-pretos são onívoros, alimentando-se de frutas, de insetos e até mesmo de pequenas aves, pequenos anfíbios e seus ovos.

Apesar da espécie conviver com ameaças como desmatamento e desconexão do habitat natural, ela não está em risco de extinção. Além do Distrito Federal, esses macacos podem ser encontrados nos estados da Bahia, de Goiás, de Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais, de São Paulo e do Tocantins.(*Fonte:JBr)