Paciente com câncer de pulmão encontra acolhimento e esperança no Hospital de Base.
As dores nas costas se tornaram tão intensas que o marceneiro aposentado Luiz de França, de 65 anos, mal conseguia sair da cama. “Acordei um dia e não consegui levantar. Nunca tinha sentido nada antes”, relembra. O susto foi o primeiro passo até o diagnóstico de câncer de pulmão, confirmado em outubro do ano passado, no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF).
A unidade administrada pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IgesDF) é referência em oncologia.
Com o diagnóstico em estágio avançado, Luiz encarou a notícia com serenidade. “Eu fiquei tranquilo. Pensei: ‘Já enfrentei tanta coisa, vou enfrentar mais essa’. E fui muito bem acolhido desde o começo”, conta ele, que segue em tratamento com quimioterapia e acompanhamento.
“Tosse persistente, dor no peito, rouquidão, falta de ar e perda de peso sem explicação são sintomas que merecem atenção”, reforça a médica. A busca pelo tratamento começa com uma consulta simples em uma unidade básica de saúde (UBS). Caso haja suspeita, o paciente é encaminhado para uma consulta com especialista.
Nancilene explica que há casos em que os primeiros sinais aparecem quando o câncer já avançou, como dores nas costas ou nos ossos. “É por isso que o rastreio entre pessoas de risco, como fumantes e ex-fumantes, é tão importante”, explica.
Tratamento que evolui
"Hoje conseguimos oferecer tratamentos personalizados, com base no perfil molecular da doença de cada paciente. Isso aumentou a sobrevida e melhorou muito a qualidade de vida"
Victor Oliveira Alves, chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital de Base
De acordo com o chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital de Base, Victor Oliveira Alves, o cenário do câncer de pulmão mudou significativamente nos últimos anos. “Hoje conseguimos oferecer tratamentos personalizados, com base no perfil molecular da doença de cada paciente. Isso aumentou a sobrevida e melhorou muito a qualidade de vida”, explica.
Ele destaca a chegada da terapia-alvo como um avanço para o tratamento no SUS. “Também chamada de terapia direcionada, é um tratamento contra o câncer que utiliza medicamentos para identificar e atacar especificamente as células cancerígenas, poupando as células saudáveis. Mesmo nos casos de doença avançada, conseguimos controlar o câncer por mais tempo. E, em alguns casos raros, até alcançar o que chamamos de cura oncológica”, destaca.
Segundo o oncologista, a pandemia da covid-19 também teve um efeito inesperado: aumentou o número de exames de tórax realizados, o que levou à detecção mais precoce de nódulos pulmonares em alguns pacientes. “Essa mudança de comportamento tem feito a diferença. Quando diagnosticamos cedo, o tratamento pode ter intenção curativa”, reforça.
Apoio além do físico
O impacto do diagnóstico vai além do corpo. Segundo a psicóloga hospitalar Luiza Gayão, o câncer de pulmão carrega um peso emocional importante, tanto para o paciente quanto para a família. “Muitos se sentem culpados por terem fumado ou por fatores de risco. Há medo, luto simbólico, perda da autonomia. É um momento muito sensível”, diz.
Para ela, o cuidado precisa ser integral. “A psicologia hospitalar oferece um espaço de acolhimento para que o paciente compreenda seus sentimentos, resgate sua história, sua dignidade e encontre força para seguir com o tratamento. O vínculo terapêutico é fundamental nesse processo”, afirma.
Prevenção ainda é a melhor arma
Apesar dos avanços no tratamento, o câncer de pulmão ainda é o tipo mais letal. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2023 foram mais de 28 mil novos casos e cerca de 20 mil mortes pela doença no Brasil.
65
Somente no primeiro semestre de 2025, foram realizadas 31 consultas de primeira vez e 521 retornos em oncologia clínica no Hospital de Base, com casos em diferentes estágios da doença. Atualmente, cerca de 65 pacientes passam por tratamento ativo todos os meses na unidade.
O tabagismo segue como o principal vilão, responsável por até 85% dos casos. Mas os especialistas alertam: a ameaça também vem dos cigarros eletrônicos, cada vez mais populares entre os jovens. “Esses dispositivos expõem o pulmão a substâncias tóxicas que podem causar danos sérios e aumentar o risco de câncer no futuro”, alerta a pneumologista Nancilene.
No Distrito Federal, as UBSs oferecem grupos de apoio à cessação do tabagismo, abertos a qualquer cidadão. “Parar de fumar é possível e não precisa ser solitário. Há ajuda disponível, e o primeiro passo pode salvar sua vida”, reforça a médica.
Diversas UBSs do Distrito Federal oferecem grupos de apoio para quem deseja parar de fumar. Para saber onde encontrar o mais próximo de você, entre em contato com a Coordenação de Tabagismo pelo telefone (61) 3449-4441 ou acesse o site.